Fallout

A garota, o necrótico e o escudeiro

Spoilers Leves
Por Hanz Chucrute
25/05/2024
Fallout é a série derivada da franquia de games de mesmo nome. A adaptação, assim como o jogo, tem lugar em um período pós apocalíptico criado por um conflito nuclear generalizado. A série conta no elenco com Ella Purnell (Lucy), Walton Goggins (Cooper Howard), Aaron Moten (Maximus) e outros.

A série se divide, por assim dizer, em três aspectos bem distintos: a ambientação, que varia entre um futuro distópico, que na cronologia da série é o referencial de tempo presente, e o passado que é em torno do ano de 2077; o trio de personagens Lucy, Maximus e o Necrótico e, finalmente, a própria trama desenvolvida para o seriado.

Quanto à ambientação, Fallout certamente vai maravilhar os fãs do game que devem se deliciar com referências espalhadas em todos os lugares. Para nós, meros mortais que nunca entraram em contato com este universo e tudo é uma novidade, o que chama a atenção é a estranheza de um universo meio high tech, condizente com o futuro de 2077, mas com a linguagem visual dos anos 50 imersa no ambiente hollywoodiano de cowboys e sob a influência da indústria do terror nuclear da guerra fria. No outro extremo a ambientação é de um futuro muito dependente de tecnologias do passado, um universo distópico pós nuclear singular, que não possui a selvageria de um MadMax em uma terra totalmente estéril, mas sim coberta por florestas e lagos assim como desertos, habitados por uma fauna bizarra devido à exposição de décadas à radiação.

A série começa apresentado a personagem Lucy, uma habitante de um abrigo nuclear auto sustentável, os chamados "vaults". Esses bunkers foram construídos antes do período do conflito nuclear a fim de proteger a raça humana e propiciar a repovoação do planeta após o decaimento da radiação. Lucy é uma típica habitante do Vault, criada em um ambiente isolado, de hábitos diferentes e desenvolvida sob uma educação que mais parece uma lavagem cerebral inspirada por uma propaganda: ela sempre quer ver o melhor, é motivada e está certa de que representa o futuro da humanidade. O problema é que Lucy vai ter que se confrontar com a vida real ao sair do vault para eventualmente esbarrar em Maximus. Ele é recém declarado escudeiro, mas deseja ser um cavaleiro da "Brotherhood of Steel", uma irmandade que usa super armaduras e é dedicada a preservar a tecnologia e monitorá-la a fim de evitar que pessoas erradas sejam uma ameaça ao ponto de desencadearem um novo apocalipse nuclear. Maximus, assim como Lucy, tem uma estranheza peculiar já que ele pouco entrou em contato com a humanidade de fora da ordem. A "lavagem cerebral" de Maximus gira em torno de ser um nobre cavaleiro e transformar o mundo junto com a ordem. Ele e Lucy tem algo em comum, ambos saíram dos seus mundos "reduzidos" para eventualmente se confrontarem com o mundo "não civilizado" de Cooper Howard, ex-combatente dos EUA, ex-ator e ex-garoto propaganda da Vault-Tec Corporation, a mega corporação responsável pela construção e comercialização dos "vaults". Cooper, que faz a ponte entre o passado e o presente de Fallout, se tornou um necrótico nesse novo mundo, um humano desfigurado por mutações e dependente de drogas para manter a sua sanidade. Fica claro que a desfiguração física de Cooper é uma simbologia da sua degradação ética e moral a que ele foi submetido e também se tornou testemunha. Ele é um contraponto ao grau de inexperiência e alienação que Lucy e Maximus tem com relação ao mundo "real".

Fallout faz bem o seu dever de casa: tem uma ambientação curiosa, personagens interessantes que vão se desenvolver em uma trama montada como uma quebra cabeça, peça a peça, episódio a episódio. Além disso a série conta com uma boa produção e elenco, com destaque para Ella Purnell e Walton Goggins. Fallout não é uma obra prima, mas não tem grandes barrigadas para nos deixar "P" da vida, vai garantir um bom divertimento casual e merece ser vista. A segunda temporada, antecipada pelo clima de cliffhanger da primeira, já está confirmada.

Leia Também