The Acolyte T01

Não desce nem com cachaça

Spoilers Médios
Por Hanz Chucrute
18/07/2024
Série que conta no elenco com Amandla Stenberg (Osha/Mae), Lee Jung-jae (Sol), Dafne Keen (Jecki Lon), Charlie Barnett (Yord Fandar), Rebecca Hendenson (Vernestra Rwoh), Carrie-Anne Moss (Indara).

É difícil decidir por onde começar a falar sobre The Acolyte. A série conseguiu completar sem muito esforço o bingo da ruindade. Roteiro ruim, personagens medonhos, diálogos pobres, atuações apagadas, edição equivocada. E tamanho desastre só pode ser explicado por um erro de dimensão astronômica em sua concepção. SW teve sua origem baseada em arquétipos universais, na jornada do herói, na mitologia da luta do bem contra o mal. Essa abordagem criou uma fan base gigantesca, prova cabal do sucesso da fórmula (entre outros elementos). Leslye Headland, a showrunner da série, ao invés de manter essa linha optou por ignorar a receita tão experimentada e bem sucedida para fazer o self insert, ou seja, decidiu colocar a sua visão particular de mundo e de SW na produção. O problema é que ao fazer isso Leslye se restringiu a agradar um público mais restrito da fan base e ainda trouxe uma série de incongruências com as obras precedentes.

Essa descaracterização "espiritual" da saga resultou em uma obra pobre, rasa e tão incoerente quanto se poderia imaginar. Leslye carrega o cerne das questões contemporâneas da nossa sociedade para a galáxia distante. A série explora uma relativização na luta entre o bem o mal, uma tentativa de retratar os maléficos Sith e usuários do lado sombrio da Força como um grupo que apenas deseja ser aceito, como se eles não fossem moral e eticamente repreensíveis, destrutivos em suas atitudes e motivações. Ora, ora... pobres oprimidos malévolos.... Os Jedi que na saga sempre foram símbolo e referencial do bem e da sabedoria na galáxia, agora são retratados como patetas intelectualmente fracos, falhos, incapazes; sugeridos como opressores intolerantes incapazes de aceitar o que lhes é diferente. Esse retrato é tão bizarro e tão dissonante do que foi estabelecido no lore da saga que dá a impressão de estarmos vendo uma fan fiction mal escrita de quem pouco conhece de Star Wars.

A ideia de criar uma trama centrada em gêmeos é um clichê largamente explorado no universo ficcional, contudo isso não seria um problema se tal abordagem fosse bem executada e, infelizmente, não é isso o que acontece em Acolyte. E a lista de escorregões em Acolyte é longa, bem longa. Na produção as gêmeas Osha e Mae são interpretadas por uma única atriz, mas em sua infância por atrizes que, embora sejam parecidas, não são idênticas, o que causa uma estranheza... Por que? Não sei, acho que nem mesmo a produção da série sabe. Os diálogos são expositivos e vemos uma recapitulação constante do que já sabemos e já foi entendido, tratando a audiência como se fosse idiota. A direção optou por utilizar flashbacks extensos e repetitivos na expectativa de revelar parte a parte o misterioso passado de Osha e Mae e dos Jedi envolvidos com elas, mas no fim das contas as gêmeas são tão mal desenvolvidas e unidimensionais que pouco importa. O desenrolar da trama é coberta de conveniências e contradições: uma hora os jedi usam a Força para logo em seguida parecerem ter esquecido que podem usá-la no momento mais necessário. Em um momento poderosos, em outro são "nerfados". Mae em um momento está decidida em matar os Jedi e, do nada, decide se entregar a eles e assumir seus crimes, mas quando tem a chance ela muda de ideia outra vez. Por que? Sei lá, não me perguntem. O momento do ritual da ascensão de Osha e Mae tem um momento tão vergonha alheia com as Bruxas que chega a me dar pena de quem imaginou a cena - assim como a ocasião em que Mae toma o lugar de Osha e corta os próprios cabelos. E o que dizer do padawan da Mestra Indara, Torbin, um chorão com saudades de casa e tão idiota que é impossível acreditar que ele esteja na Ordem Jedi. Eu vou ser sincero, são tantas coisas ruins que a fim de poupar você, caro leitor, de uma lista tediosa de erros, irei resumir a tragédia: o encadear de acontecimentos que guiam a trama é tão embaraçoso, cheio de de conveniências, coincidências, motivações infundadas ou mal explicadas que qualificar isso como lazy writing seria um grande elogio. A obra parece uma mistura de novela mexicana classe C com uma paródia feita em casa e sem graça do próprio SW. E os problemas se estendem a alguns dos efeitos visuais da série assim como a uma edição confusa e que mal sabe fazer o uso das tradicionais transições clássicas da franquia.

O acúmulo de erros e problemas em Acolyte é tão extenso que eles formam uma tempestade perfeita de merda que eu nunca presenciei em uma série tão cara como essa - a informação é que ela pode ter custado até US$ 200Mi. Após três ou quatro capítulos, se você for o tipo de audiência que tem o mínimo senso crítico e é conhecedor de SW, vai desejar que a série acabe o mais cedo possível, não importando o que aconteça. Nem alguns cameos como o de Ki Adi Mundi (que segundo a cronologia oficial nem seria nascido na época retratada pela série), Plagueis e Yoda, não servem para diminuir minimamente o desastre da produção. Me atrevo a dizer que nem na base da ingestão de litros de cachaça desceria melhor (fica meu conselho, não faça isso). O único ponto positivo de The Acolyte é fazer as outras produções ruins de SW ficarem melhores. Minha recomendação com relação à série é: fique longe se você não é aquele fã hard que quer ver absolutamente tudo de Star Wars. E que nunca aconteça uma segunda temporada.

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