Reacher T01

Descendo a porrada, mas só em quem merece

Spoilers Médios
Por Hanz Chucrute
28/04/2024
Reacher (2022) é uma série baseada no livro de Lee Child e conta no elenco com Alan Ritchson (Jack Reacher), Willa Fitzgerald (Roscoe), Maria Sten (Neagley), Malcolm Goodwin (Finlay) e outros.

Se eu tinha algum conhecimento de Jack Reacher era dos dois filmes estrelados por Tom Cruise, O Último Tiro (2012) e Sem Retorno (2016). E se você está no mesmo time que eu, então vai ter a mesma surpresa que eu tive ao ver o Jack Reacher da série. Alan Ritchson é do tamanho de uma porta e, para alívio dos fãs do personagem, ele corresponde a uma descrição mais fiel do Reacher nascido na literatura, um descolamento das obras anteriores.

A série se passa com Reacher chegando a uma pequena cidade do interior americana, aquela típica aonde só de botar o pé na primeira quadra da cidade todo mundo vai saber que você não é dali, no melhor estilo “o que este forasteiro está fazendo na nossa cidade de merda que não tem nada de interessante?”. Logo o grandalhão acaba na cadeia por um crime que não cometeu e, obviamente, é o cara mais qualificado para desvendar o homicídio do qual ele é acusado.

A partir daí a série vai apresentando ao público o mistério a ser resolvido - assim como a figura de Jack Reacher. Ele é o genuíno arquétipo do andarilho, do cara que presta socorro quando preciso mas que não gosta muita do mundo. Para quem gosta do gênero investigativo, Reacher é um prato cheio. Cada episódio entrega as peças de um quebra cabeça que torna tudo muito pessoal para Reacher e conduzem a um esquema bem maior do que se poderia inicialmente presumir. E tudo isso é bem trabalhado na sequência de oito episódios.
E embora Reacher, em um contato mais imediato, pareça ser mais um tanque de guerra que é capaz de patrolar tudo que encontra pela frente, a produção conta com uma série de flashbacks da infância do personagem para enriquecê-lo. Essas passagens realizam uma construção mais humana dele, no fim das contas o jeito mais invocado e de fazer poucos amigos não é uma simples antipatia e está mais para uma inabilidade de se adaptar a um mundo que lhe traz mais desconforto e problemas do que realização ou algum tipo de felicidade .


Mas Reacher não sobrevive apenas da figura do seu protagonista. É um alívio ver que apesar de uma lista invejável de habilidades adquiridas do seu passado militar, Jack não é um super man que resolve tudo sozinho. Conforme as coisas se desenrolam e o caldo vai engrossando ele conta com a ajuda dos policiais locais Roscoe e Finlay e não faz cerimônia para pedir o auxílio da amiga de longa de data, Neagley. O referido trio não é o tipo de personagens secundários unidimensionais que dizem apenas “sim, chefe”, cada um tem um aspecto diferente da situação, de seus mundos, de suas experiências; o que não torna a todos necessariamente simpáticos, mas nos levam a ter um apreço diferenciado por cada um. O resultado no geral é satisfatório, orgânico, você não fica com a impressão de que as coisas estão muito deslocadas ou que simplesmente não sejam tão críveis a ponto de te tirarem da série - embora alguns aspectos da trama, se bem pensados, remetem a coincidências um tanto convenientes.


No fim das contas, sem optar pelo complexo, sem dar lições de moral, e nem querendo salvar o mundo, entre muita porradaria e tiroteio, podemos dizer que Reacher é um oásis na terra árida da indústria do cinema e do entretenimento - que ultimamente conta com sérias dificuldades em executar alguma obra com muito mais qualidades do que defeitos. Reacher traz uma fórmula que aposta mais em apresentar personagens mais desenvolvidos, numa trama mais dinâmica e que faz o espectador ficar se perguntando "e agora? qual o próximo passo?". Assim, em sua simplicidade, Reacher me agradou e chegou ao ponto de me fazer sentir o que eu não sentia há muito tempo: ficar na expectativa de assistir a segunda temporada.


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